Segundo o estudo “Previsões ESG 2023 para a Sustentabilidade Mundial”, divulgado em novembro de 2022, a partir de 2023, líderes ESG enfrentarão uma série de desafios impostos a partir da aceleração das políticas de redução de emissões de gases de efeito estufa, bem como das ações de sustentabilidade impostas às empresas. Essas diretrizes não dizem respeito apenas ao ano de 2023, mas prevê impactos até quatro anos depois.
A sustentabilidade deverá ser encarada como uma área de negócios, que ditará as estratégias das empresas. Assim, entendemos que será necessário o uso intensivo e investimento em tecnologia e informações, a fim de que uma realidade sustentável seja possível.
Na área ambiental, nota-se que o foco estará em eficiência energética, uso da água, tratamento de resíduos, preservação da biodiversidade e economia circular. Na área social, haverá um reforço para que os recursos humanos sejam vistos como capital para negócio, além de dar prioridade a assuntos como equidade, inclusão e diversidade.
Vale lembrar, que essas propostas são resultados de um estudo conduzido por Bjoern Stengel, líder de Pesquisa e Prática de Sustentabilidade Global, Estratégias e Tecnologias Sustentáveis, que apontou o cenário disruptivo que será enfrentado pelos CIOs (Chief Information Officers - Superintendente de TI em português) a partir do próximo ano. Dentre os principais pontos do estudo, identificamos:
incerteza acelerada e interconectada;
um choque de oferta global (demandando reorientação e resiliência no planejamento); aumento da digitalização dos negócios;
inovação orientada para ecossistemas;
todas as ações da empresa oferecidas como um serviço e o ESG se tornando uma área estratégica de ação tendo como medida obrigatória a sustentabilidade.
E principalmentem, tudo isto demandará um poder de gestão e tomada de decisão transformado.
Outras previsões deste estudo são que, até 2023, o desempenho ESG se tornará um componente padrão para avaliação de riscos de terceiros. Até até 2024, 30% das organizações aproveitarão as plataformas de gerenciamento de dados ESG para orientar os KPIs ESG por um sistema centralizado de registro. Já em 2024, e ainda 80% das empresas vão capturar seus dados de carbono e relatar sua pegada em toda a empresa usando métricas quantificáveis.
Até 2025, mais de 60% das organizações exigirão que os provedores de data center divulguem seu uso de energia, o uso de fontes de energia renováveis e os equipamentos de TI recicláveis. Espera-se que até 2026, o desempenho ESG será visto como um dos três principais fatores de decisão para compras de equipamentos de TI. E que até 2027, 25% das empresas terão designado um diretor de sustentabilidade responsável por atender às metas ESG de sua organização e tomar decisões de compra de TI relacionadas a ESG.
Entretanto, cabe aqui mencionar que nada disso terá real valor e impacto se não houver a compreensão de que o debate sobre ESG é raso se abordar somente mudanças climáticas, diversidade, transparência e combate à corrupção.
É preciso entender que existem ainda muitos outros assuntos que dizem respeito à uma formação consciente em sustentabilidade, que são pouco falados mas nem por isso descartáveis. Entre eles estão: Decrescimento, decoloniedade, e democracia. Os três D’s.
Decrescimento trata-se da afirmação óbvia e inegável de que os sistemas finitos da Terra impedem um crescimento infinito. Trata-se da compreensão de que o progresso humano não deve estar atrelado consumo de recursos materiais e energéticos, e de que não se deve se apegar à acumulação contínua e ilimitada de capital e riqueza, o que leva ao questionamento da lógica de dominação e espoliação da natureza.
Decolonialidade, por sua vez, diz respeito à emancipação dos imaginários arraigados há mais de 200 anos de uma visão eurocêntrica e capitalista do mundo. Desde constatações enganosas, como a ideia de um único modo de bem viver idealizado pelo American way of life, à obsessão com eficiência, velocidade e disponibilidade ininterrupta de negócios e pessoas. Significa refletir na vida que define-se como boa, reconhecer as particularidades da história de cada lugar e de todos os sistemas lá presentes, para além do olhar econômico e de negócios. É por meio da decoloniedade que a diversidade poderá ser de fato promovida.
Por fim, a Democracia nada mais quer dizer do que a real compreensão do termo. De que é necessário um sistema que zele pelas minorias, ordene as divergências para escutar ativamente a pluralidade; garanta o direito a voto à toda população, sem nenhuma imposição; assegure a liberdade de imprensa, o acesso à justiça, a transparência nos processos e nos dados. Um ambiente democrático resulta em negócios justos. De maneira que cabe às empresas o compromisso público com a democracia e a governança transparente, inclusiva, com participação informada e cultivo do valor democrático na cultura organizacional.
Sendo assim, concluimos que a formação executiva deve ir além de estratégias, ferramentas e relatos que no fundo operam sob a mesma lógica que causou os problemas ambientais conhecidos atualmente. É necessário atrair o olhar ao centro das raízes da insustentabilidade, ditadas pelos ideais de produção, consumo e acumulação descontrolados. Do contrário, o ESG não passará de uma fantasia, e o planeta continuará a esquentar, a fome a aumentar e a democracia a corromper-se. Neste contexto, o monitoramento e acompanhamento das estratégias e indicadores será fundamental para alcançar os principios do ESG.
Por: Bianca Gomes e Rayane Ruas
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